sexta-feira, 11 de junho de 2010

Preciosa

PRECIOSA



O filme abre nos apresentando Claireece Preciosa Jones uma moça pobre porém vaidosa e sonhadora que habita uma realidade social mórbida. Sua força  está em seu ótimo senso de humor que torna sua vida um pouco mais leve e alegre.

Embarcamos em uma história que nos sufoca e quando permite um respiro de alivio, vem outra onda de perguntas sem respostas que nos deixando sem forças psicológicas para imaginar uma saída possível para a protagonista. Assim, a narrativa do diretor Lee Daniels desperta três sentimentos específicos: dor, desespero, impotência e a sensação da derrota.

A trama é costurada através da relação conturbada de Preciosa com sua família. Seu pai a estupra periódicamente, sua mãe é violenta, omissa e ainda sente ciúmes da filha  por seu companheiro a desejar. Resta para a protagonista com seu o instinto natural de mãe, seguir sua vida tentando cuidar de seus dois filhos frutos do incesto do próprio pai.

O desespero se instala, ao constatar que a personagem e sua filha portadora da síndrome de down estão sozinhas naquela casa e reféns das únicas pessoas que seriam referências de amor espontâneo, já que o nosso repertório humano de sentimentos se desenvolve durante a gestação é a base da constituição de uma família.

Preciosa é a metáfora de um belo diamante em meio a lixos e insetos, já que o lugar onde vive o personagem é o oposto de onde ela realmente gostaria de estar. Conhecemos em seu mundo particular através de seus devaneios vestindo roupas elegantes, namorando seu homem dos sonhos e sendo badalada em meio ao glamour do meio artístico.

Na fotografia, os enquadramentos servem de narrador da história, é através dela que entramos na história. Ela acompanha, comenta, pontua e em alguns momentos fica perplexa e perde o equilíbrio principalmente quando o personagem fala algo importante ou vive uma situação absurda. Isso fica evidente na cena em que Preciosa revela à assistente social que o próprio pai é seu amante e pai de seus filhos a câmera dá uma desequilibrada e a perplexidade da assistente social é pontuada.

Os planos fixos apenas com a movimentação dos atores são usados nos momentos de “seriedade”, quando a narrativa sugere que talvez tudo começara a se resolver. O rosto dos personagens nos momentos de relaxamento ou relação afetiva é filmado bem de frente nos aproximando ainda mais dos sentimentos internos dela. Quando se trata de conflitos pesados ou tensos são filmados no ângulo de 45º a esquerda ou a direita nos colocando de fora como testemunha ocular das atrocidades vividas pela protagonista.

As cenas da casa da personagem foram filmadas com pouca luz difusa pontuando apenas as informações necessárias a narrativa da história e sombras duras que conferem o clima mórbido. Tudo preenchido por um tratamento de cor que carrega no tom avermelhado, deixando um aspecto infernal ao mundo da protagonista.

O filme conduz o espectador pelo mundo particular de Precioso Jones, quando completamente envolvidos com os conflitos dela, chegamos à conclusão de que não há nada a ser feito e isso nos faz contemplar o delicado limite da vida. O personagem chegou a essa conclusão primeiro que nós, já que enfrenta tudo isso sonhando e lutando dia a dia para se manter viva.

Há uma trilha ambiente tensa quase imperceptível ao ouvido que nos envolve nesse universo de sofrimento de Claireece e o rap caracteriza o grupo étnico e social a que ela pertece e a cidade onde a história se passa.

Diferente dos filmes tradicionais da indústria norte-americana cujos problemas dos personagens sempre se resolvem, com preciosa é bem diferente. Ela descobre que foi contaminada por HIV pelo pai que a essa altura já está morto. Sinto esse momento como o rompimento do limite do drama tradicional, pois o desespero dar lugar ao sentimento de impotência e a sensação de derrota e isso é o clímax do filme. Toda a luta de preciosa até ali foi em vão e o diretor fecha o filme com um olhar otimista ressaltando que Preciosa daí em diante continuará sua luta, só que agora em função dos filhos.



Por Vanderson Feitosa

2 comentários:

Paulo de Tarso Galeano disse...

TO tentando te adicionar como favoritos, mas não estou conseguindo. Meu blog é: www.voudesenhando.blogspot.com...queria deixar seu link la

Vanderson Feitosa disse...

Legal, coloquei o link abaixo...

Não sei como se faz isso, depois me explica como vc fez o seu...Vou postar o seu blog no meu também.


http://vandersonfeitosa.blogspot.com/


Abraço!